Meanwhile... Suddenly and Then (Enquanto Isso... De Repente e Então), título da 12ª Bienal de Lyon, que começa no dia 12 de setembro, encapsula a essência de uma mostra que pretende, desde o título expansivo até o formato multiplataforma, afirmar a importância de se deixar levar pelas possibilidades variadas que a arte tem de contar histórias e, por meio delas, renovar a atenção à forma.
Diretor-artístico da bienal desde a sua criação, Thierry Raspail convida os curadores temporários a pensar na mostra a partir de uma palavra-chave que se mantém por três edições do evento. A primeira, em 1991, foi “história”; em 1997, “global”; e, em 2003, “temporalidade”. Desde 2009, o tema vigente é “transmissão”. Instigado a pensá-lo como guia para a sua curadoria, o islandês Gunnar Kvaran retrucou: “narrativa” – e assim estabeleceu-se o mote central desta 12ª edição.
“Para alguns, a arte é uma linguagem estruturada com uma narrativa óbvia; para outros, é uma imagem silenciosa com algo vago a ser dito sobre ela”, diz Raspail em seu texto de apresentação. A arte como um vasto campo no qual forças antagonistas operam – e as obras finais são fruto dessa dinâmica – parece ser o formato mais coerente de pensar e mostrar a produção atual entre as bienais mais relevantes deste ano, em Veneza e Istambul.
Além da exposição, a mostra francesa terá outras duas plataformas. Num laboratório de criação e experimentação, obras da coleção do Museu de Arte Contemporânea de Lyon e trabalhos de artistas em residência e de amadores estarão lado a lado para apresentar uma nova forma de se relacionar com o mundo. E no Résonance, coletivos de artistas, galerias jovens, pequenas instituições e pessoas engajadas com a arte vão estabelecer um contraponto à exposição com suas atividades independentes. “As narrativas estão em todo lugar e hoje são uma parte integral da nossa vida diária”, afirma Kvaran.
As obras dos artistas-contadores de histórias se pulverizarão pela cidade. Entre os participantes, Kvaran destaca Erró, Yoko Ono e Alain Robbe-Grillet como os primeiros a chamarem a sua atenção pela capacidade de inventar “uma política de narrativa visual”. E também Robert Gober, Jeff Koons, Matthew Barney, Fabrice Hyber, Tom Sachs e Paul Chan, artistas cujas carreiras ele acompanha de perto e que inovam, exploram e dão diferentes formas às histórias que contam. 
Entre os brasileiros, Jonathas de Andrade Souza conta, numa instalação conceitual, a história de um pedaço de doce; Thiago Martins de Melo, com pinturas em grande formato, revela os sonhos de sua mulher; Paulo Nazareth reconta uma performance-caminhada que percorre milhares de quilômetros da África do Sul à Bienal de Lyon; Paulo Nimer Pjota faz uma intervenção na fachada do La Sucrière e telas que reúnem plantas, tanques de guerra, caveiras, palavras e frases em narrativas metafóricas, oníricas, instigantes e enraizadas na arte de rua paulistana. A mise-en-scène a partir de colagens, fotos, desenhos, objetos e textos do carioca Gustavo Speridião seduz pelo seu engajamento multifacetado com o mundo que o rodeia.
Diferentemente de outros contadores de histórias contemporâneos, como políticos, publicitários e roteiristas de novelas, os artistas “imaginam as narrativas de amanhã: narrativas que dispensam o suspense e a empolgação da ficção globalizada de Hollywood. As suas são narrativas totalmente novas que nos desfamiliarizam e reestabelecem uma complexidade e estranhamento para com o mundo”, diz Kvaran. Na Bienal de Lyon, as histórias nem sempre serão lineares ou palatáveis, mas certamente estimularão os visitantes a pensar as suas próprias histórias sob novas formas.
12ª Biennale de Lyon
quando: de 12/09 a 05/01/2014
onde:
diversos lugares em lyon, frança
biennaledelyon.com