quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Cindy Sherman 


Cindy Sherman 
Ao voltar a câmera para si mesma, Cindy Sherman construiu seu nome como um dos mais respeitados na fotografia do final do século XX. Embora seja a protagonista da maioria de suas fotografias, não podemos dizer que sejam autorretratos. Ao invés de mostrar seu próprio rosto, Sherman exibe personagens construídos e incorporados por ela, como veículos para refletir sobre inúmeros aspectos do mundo moderno: o papel da mulher, o papel do artista e muitas outras questões. 

É através destas fotografias ambíguas e ecléticas que Sherman tem desenvolvido um estilo e assinatura próprios. Através de diferentes séries, Sherman tem levantado questões desafiadoras e importantes sobre o papel e a representação das mulheres na sociedade, na mídia e na criação artística.

Cynthia Morris Sherman nasceu em Nova Jérsei, no ano de 1954, e foi criada no subúrbio de Long Island, em Nova York. O hobby de seu pai era colecionar câmeras e tirar fotos da família. Quando criança, Cindy passava muito tempo brincando de vestir-se, atividade que mais tarde usou em seu trabalho. Em 1972, Sherman se matriculou na State University College em Buffalo, NY, onde estudou pintura. A artista pintou autorretratos e imagens realísticas encontradas em revistas e outras fotografias.

Em 1975, Sherman foi introduzida à arte conceitual, o que teve um efeito libertador sobre ela. Ela voltou à sua paixão de infância e passou a se vestir para seus trabalhos, gastando muitas horas tentando transformar sua aparência. Ela viu o potencial de usar a fotografia para libertar sua criatividade.

Das pinturas em estilo super-realista da escola, durante o período de repercussão do feminismo americano, Sherman voltou-se para a fotografia no final da década de 1970, a fim de explorar a ampla gama de papéis sociais femininos. Ela buscou trazer a tona a sedutora - e muitas vezes opressiva - influência da comunicação de massa sobre as questões femininas individuais e coletivas. Virando a câmera para si mesma, em um jogo de encenação com figurinos, maquiagem e poses, faz um trabalho inquietante, centralizado na era do consumismo e da proliferação das imagens do final do século 20.
Em 1975 ela produziu uma serie chamada "Cutouts" onde ela era a personagem de seu próprio enredo. Ela então tomou as fotografias e as recortou, reorganizando-as sobre painéis de papel. Estas obras foram incluídas em uma exposição em Nova York. Ao final de seu segundo curso de fotografia, Sherman percebeu que ela nunca mais voltaria a pintar.
Aos 23 anos, Sherman se mudou pra a cidade de Nova York. Ela continuou suas performance, fotografando a si mesma em seu apartamento, nos espaços ao ar livre de Nova York e em Long Island. Sherman tirou a maioria das fotografias, mas a família e amigos clicaram outras.
Sherman conquistou a crítica com "Untitled Film Stills", série de 69 fotografias em branco e preto clicadas entre 1977 e 1980, onde ela utilizou diferentes figurinos, cenários e expressões faciais para se transformar em inúmeros arquétipos femininos: atrizes de filmes B, dona de casa, prostituta, professora, dançarina. Nestas fotos, as personagens não estão especificadas, permitindo ao espectador construir suas próprias narrativas. E ela os incentivou a isso, insinuando-se através de suas poses para atrair os olhares. "Ela é boa o suficiente para ser uma atriz de verdade" disse certa vez Andy Warhol, cujo comentário está incluído no site do MoMA.
Em 1981 Sherman teve sua primeira exposição individual e, ao longo desta década, seu estilo começou a mudar, tornando-se mais denso. Enquanto Sherman trabalhava para uma linha de roupas, também produziu fotos que incluíam personagens e poses bizarros. Na série "Fairy Tales", as imagens típicas dos contos de fadas foram substituídas por morte e decadência. Monstros e seres com partes do corpo grotescas exageravam os estereótipos femininos e masculinos da arte ocidental. Sherman lançou seu olhar para a violência e o horror dos contos de fadas e suas estruturas sexuais.
"Sex Pictures" apresenta imagens surreais criadas com manequins e próteses. Na maioria de suas fotos, Shrman começou a usar partes de corpos encontrados em escolas de medicina e os incorporou em seus quadros.
A artista se voltou aos mestres antigos da pintura para buscar inspiração e criou séries de fotografias onde estava vestida como figuras famosas de Caravaggio, Raphael e outros. Na série "Historical Portraits".  A série se dedica a reinvenção da arte clássica usando grandes fotografias coloridas.
Artista notável, Sherman reconfigura seu rosto e seu corpo para a camera - seja através de sutis distorções ou grotescas próteses - para tornar-se em todas irreconhecível para sua audiência. Cada imagem é sobrecarregada com detalhes, cada nuance capturada pelo olhar da artista.
Desde o início da década de 1980 a maior parte do trabalho de Sherman tornou-se maior, em escala, e mais colorido, mas a sua principal preocupação – confrontar como a mídia influencia a nossa percepção de identidade – permanece constante. Nenhuma das fotografias tem títulos e as personagens de Sherman (com exceção das fotografias sequenciais da série "Untitled Film Still”) nunca se repetem, deixando o espectador a refletir sobre os trabalhos sem nenhuma narrativa da artista para auxiliar na tarefa.
Seus retratos estão tanto arraigados no presente quanto são um prolongamento das tradições da história da arte, levando o público a reconsiderar os estereótipos comuns e as premissas culturais.
Além de numerosas coletivas, seu trabalho foi o tema de exposições individuais no Museu Stedelijk de Amesterdã (1982), Whitney Museum of American Art, em Nova York (1987), Kunsthalle Basel (1991), Hirshhorn Museum and Sculpture Garden em Washington, DC (1995), Serpentine Gallery, em Londres (2003) e Martin-Gropius-Bau, em Berlim (2006), entre outros. Grandes retrospectivas do trabalho de Sherman foram organizadas pelo museu Boymans-van Beuningen em Roterdã (1996), Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (1997), Museu de Arte Moderna de Nova York (1997) e Jeu de Paume, em Paris (2007), MAM-SP (2007), SFMOMA, São Francisco (2009), MOCA, Los Angeles (2009), Milwaukee Art Museum (2012), Astrup Fearnley Museum, Oslo (2012), Pérez Art Museum Miami (2014) e Louisiana Museum for Moderne Kunst, Copenhague (2014).
Cindy Sherman vive em Nova York e é representada pelas galerias Metro Pictures Gallery de Nova York e Sprüth Magers (Berlim e Londres).


Fonte: Touch of Class # 319 - Revista de Artes Plásticas