Lartigue, um dos fundadores da fotografia moderna, ganha sua primeira mostra no Brasil
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO
DO RIO
A vida é essa coisa maravilhosa que dança, pula, voa, ri... e passa! E essa
matéria animada, mutável, eu gostaria de imobilizá-la, capturar em pleno voo a
imagem de um instante, de um curto fragmento de tempo que daí em diante será
algo eterno."
Quem vê as fotos do francês Jacques Henri Lartigue (1894-1986) compreende de
imediato a frase acima. Anotada em um de seus diários, ela também serve de
resumo de sua filosofia.
Considerado um dos fundadores da fotografia moderna, Lartigue tem parte de
sua obra exposta no Brasil desde a última sexta, no Instituto Moreira Salles do
Rio -a exposição chega a São Paulo no ano que vem.
Divulgação
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Jeannine Lhemann na praia de Royan: foto de 1926 de Jacques Henri Lartigue |
Filho de uma família da alta burguesia parisiense, ele experimentou em
primeira mão a revolução tecnológica do início do século 20 -a invenção do
automóvel, da aviação e o desenvolvimento da própria fotografia-, e começou a
registrar esse cenário a partir dos sete anos.
"Ele explorou muito o registro de uma vida que estava se acelerando e de uma
técnica de representação visual que consegue capturar isso", diz Sergio Burgi,
coordenador de fotografia do IMS.
Não por acaso, a mostra dedicada ao francês se chama "A Vida em Movimento", e
reúne 255 obras, entre fotografias, fac-símiles de páginas de diários, vistas
estereoscópicas (tridimensionais) e filmes, todas pertencentes à instituição
francesa Donation Lartigue.
IMPROVISOS
Mais do que um garoto rico que teve a sorte de ter acesso a câmeras
fotográficas num momento em que elas eram raras, o francês foi um artista
intuitivo, cujo estilo acabou sendo talhado pelas limitações técnicas da época.
"Quando criança, ele tinha uma câmera com 12 placas de vidro [onde ficariam
as imagens]. Para não gastá-las, era obrigado a pré-visualizar as imagens,
tê-las na cabeça para assim capturar o instante exato. Sabia que não podia
errar", diz Martine d'Astier, diretora da Donation Lartigue e curadora da
mostra.
Em boa parte das imagens expostas é possível ver o fotógrafo tentando
registrar o que chamava de "a alegria do movimento" -seus amigos e familiares
brincando, as corridas de automóvel, as forças da natureza.
Mas Lartigue também foi uma espécie de precursor dos atuais editoriais de
moda, fotografando as elegantes mulheres de seu círculo social, em lugares como
Biarritz, Cannes e Cap d'Antibes.
Não por acaso, anos mais tarde sua obra chamou a atenção do fotógrafo de moda
Richard Avedon (1923-2004), que se tornaria seu amigo e publicaria, em 1970, o
livro "Diary of a Century" (diário de um século), dedicado ao francês.
O livro foi um dos motores do tardio reconhecimento da obra de Lartigue, que
se tornou uma figura pública apenas em 1963, quando o MoMA (Museu de Arte
Moderna), de Nova York, fez uma exposição de suas fotos.
"Ele foi descoberto quando tinha 70 anos, e disse: 'Na idade da
aposentadoria, estou virando profissional'", diz D'Astier.
"Os americanos adoraram suas fotos da belle époque, porque representavam um
paraíso perdido, em um momento em que o mundo estava se globalizando."
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