07/11/2012-03h23
Mostra realizada pela Bienal de SP revê obra lúdica do artista Bruno Munari
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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Numa tarde de 1968, Bruno Munari subiu até o alto de uma torre em Como, na Itália, e jogou pedacinhos de papel lá de cima, criando uma chuva de formas que rodopiavam sobre a cidade até caírem no chão. Foi a estratégia plástica encontrada para mostrar a real dimensão do ar.
Munari, artista e designer italiano, morto aos 90, em 1998, fez de sua obra uma tentativa de identificar estruturas que já existem, a busca por uma beleza intrínseca aos objetos que fosse além de pretensões de estilo, subvertendo o design ao mesmo tempo em que exalta suas virtudes.
Esses dois lados de sua obra, plástica e filosófica, estão agora num conjunto de 70 peças no Instituto Tomie Ohtake, um dos braços da Bienal de São Paulo fora do pavilhão do Ibirapuera.
Uma de suas esculturas, uma estrutura metálica de superfícies côncavas e convexas na primeira sala da mostra, está ao lado de duas peças centrais do pensamento visual no país --um "Trepante", de Lygia Clark, e a "Unidade Tripartida", obra do suíço Max Bill, do acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP, que foi um dos pontos de partida do concretismo.
Mas Munari, inclassificável como boa parte dos artistas desta Bienal, não tentou se enquadrar num movimento, embora tenha flertado com o futurismo e o surrealismo. Sua questão era revelar a estrutura das formas.
Tanto que, nos livros que produziu, não estava interessado em texto. Sua série de livros ilegíveis, como chamou essas peças, é composta por estruturas de papel com páginas entrecortadas, furos e folhas transparentes, coloridas ou, às vezes, translúcidas.
Seu "Libro Letto", ou livro-cama, de 1993, é formado por colchas coloridas costuradas como páginas de uma história dominada pela cor. Versos como "amanhã será ainda hoje", "o céu está cinza e as nuvens resmungam" ou "há um bom perfume de jasmim" estão bordados nas margens --o que torna a palavra algo secundário.
É como se só os campos de cor respondessem pelas sensações, um design que abraça o discurso da arte como elemento capaz de comover.
Divulgação | ||
Obra do artista e designer italiano Bruno Munari |
Mas não é um olhar subjetivo lançado à arte. Munari, como teórico e professor, quase sempre analisa, decupa, tenta traduzir o mundo. Numa aula que deu em Veneza, seis anos antes de morrer, ele tentou explicar, por exemplo, seu conceito de fantasia.
"Fantasia permite pensar em coisas que não existem, sem limites, como o dragão ferido por são Jorge", diz Munari. "Mas mesmo esse animal fantástico é feito de partes dos que já existem --um corpo de cachorro, uma cabeça de peixe, asas de borboleta, pernas de galinha."
Numa colagem dos anos 1930 que está na mostra, Munari, então alinhado ao movimento futurista que grassava na Itália, já ilustrava esse conceito. Ele justapõe imagens de uma águia, pistões metálicos, um peixe voador e, por último, um carro.
Não à toa, o artista chamou essa colagem de progressão dos meios de locomoção. Essa mesma lógica, de expor os mecanismos por trás da forma, ressurge em seus projetos de design, como estojos, luminárias e cafeteiras.
"Não é o objeto sacralizado nem visto como algo descartável", diz André Severo, um dos curadores da Bienal. "Ele tinha uma crença no objeto como ferramenta para disseminar uma linguagem. Era sua tentativa contínua de questionar essas formas de expressão, seus pequenos gestos de construção."
BRUNO MUNARI
QUANDO abre nesta quarta (7(, às 20h; de ter. a dom., das 11h às 20h; até 18/2
ONDE Instituto Tomie Ohtake (av. Brig. Faria Lima, 201, tel. 0/xx/11/2245-1900)
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