sexta-feira, 18 de setembro de 2015

John Baldessari

John Baldessari


John Baldessari
É difícil caracterizar a prática amplamente variada de John Baldessari – que inclui desde fotomontagens até gravuras, pinturas, filme, performances e instalações – exceto talvez pela sua abordagem irreverente e bem-humorada. Baldessari é comumente associado a Arte Conceitual ou Minimalista, embora ele mesmo tenha considerado essa classificação como "um pouquinho chata".
Nascido na Califórnia em 1931, é hoje m dos artistas vivos mais reconhecidos da atualidade, incorporando em suas obras bidimensionais imagens e fotografias pré-existentes, sobrepostas em composição de camadas ou apresentadas como partes distintas de um elemento surpresa. Seu interesse pela linguagem e a semântica é uma constante e ele o articula através do uso de trocadilhos ou títulos significativos de suas obras, ou ainda pela justaposição de imagens e palavras aparentemente não relacionadas, como na obra Blasted Allegories (1978), por exemplo. Suas fotomontagens a partir de autorretratos e o uso de textos sobrepostos têm sido fonte de inspiração para inúmeros artistas, incluindo Cindy Sherman, David Sherman, David Salle e Barbara Kruger.
Baldessari conclui o bacharelado em 1953 e o mestrado em 1957 pela San Diego State College, continuando seus estudos no Otis Art Institute (1957-1959) e Chouinard Art Institute. Sintetizando fotomontagem, pintura e textos, suas justaposições visuais equiparam imagens com palavras e iluminam, confundem e desafiam os significados.
Partindo de imagens de fontes diversas, incluindo anúncios e filmes, Baldessari subverte as associações visuais comuns, chamando a atenção aos detalhes minuciosos, justaposições absurdas e porções obscurecidas ou fragmentadas de imagens.
A pintura foi importante em seus primeiros trabalhos, ao despontar no início da década de 1960, quando empregava um estilo gestual. Já no fim da década, passou a introduzir textos e imagens, muitas vezes fazendo isso para criar enigmas que destacavam algumas das suposições implícitas da pintura contemporânea. Como ele disse certa vez: "Eu acho que quando eu estou fazendo arte, estou questionando como fazer isso".
Na década de 1970 ele abandonou completamente a pintura e passou a produzir sobre suportes diversos, como cartazes e outdoors, embora seus interesses geralmente se mantivessem na fotografia. A arte conceitual moldou seu interesse em explorar como a fotografia se comunica, mas seu trabalho tem pouco da austeridade normalmente associada a este estilo. Ao invés disso, seu trabalho tem humor leve, com materiais e temas que também refletem a influência da Pop Art.
Ele invariavelmente trabalha a partir de imagens existentes, muitas vezes organizando-as de modo a sugerir uma narrativa, mas os vários meios que emprega para distorcê-las – desde cortar as imagens, elaborar colagens com imagens não relacionadas ou tapar os rostos e objetos com pontos coloridos – nos força a perguntar como e o que as imagens estão comunicando. Um ponto marcante no desenvolvimento de sua obra foi a introdução de textos em suas pinturas. Isso evidenciou, para ele, a percepção de que imagens e textos se comportam de maneira similar - ambas usando códigos para transmitir suas mensagens.
Mesmo quando passou a abandonar o uso de textos em suas obras, Baldessari continuou a operar com a mesma compreensão do caráter codificado das imagens. Normalmente, ele une categorias não relacionadas de imagens ou temas, mas o resultado nos força a reconhecer que elas muitas vezes passam mensagens semelhantes.
É difícil avaliar sem exagero o impacto que John Baldessari vem exercendo sobre a arte do seu tempo. Um dos marcos do início de sua carreira aconteceu em 1970, quando ele tomou todas as suas pinturas de seu estúdio em San Diego (de uma década de trabalho) e as incendiou, como parte de um manifesto chamado "Cremation Project". As cinzas destas telas foram transformadas em cookies e colocadas em uma urna; o resultado de tudo isso é uma instalação, que reúne uma placa comemorativa em bronze com as datas de "nascimento" e "morte" das pinturas destruídas, assim como a receita dos cookies.
Suas dúvidas sobre a linguagem da imagem fizeram-no renascer como artista. Ele se compara a Cervantes e Goya, artistas que apresentam uma dicotomia entre o divertido e o trágico ao mesmo tempo. A ironia de suas obras é um produto secundário, inconscientemente buscado.
Como professor no California Institute of the Arts, entre as décadas de 1970 e 1980, ele inspirou um grupo de estudantes que incluia James Welling, Matt Mullican, David Salle, Jack Goldstein, Tony Oursler e Troy Brauntuch (muitos dos quais tornaram-se conhecidos como parte da "Pictures Generation"), sob a filosofia profundamente atraída pela abordagem de Marcel Duchamp, endereçando-se diretamente para a mente do espectador, e não ao seu olhar.
Baldessari tira fotografias, sem considerar-se fotógrafo. Em seus primeiros cliques, dispara sem mirar e não seleciona nenhum alvo. Cria assim "Wrong", onde aparece ele mesmo em frente à uma palmeira. Obras com textos também têm sido parte importante de sua prática, começando com sua seminal "I Will Not Make Any More Boring Art" (1971), onde ele rabiscou estas palavras repetidamente; outras obras combinam textos e imagens, para justaposições desestabilizantes ou desconcertantes.
Em "Embed Series" (iniciada em 1974) ele estuda a codificação das mensagens de consumo na publicidade. Para Baldessari, a série fala sobre a incorporação de palavras e imagens ocasionais na fotografia. Logo optou por eliminar as imagens, dando ao texto o papel principal. Quando começa a usar círculos para tapar os rostos de seus personagens, ele acentua o anonimato dos mesmos, obrigando o espectador a desviar sua atenção para dar sentido à cena. Embora as obras não tenham textos, a linguagem está presente, desempenhando um papel importante diante dos títulos com tanto significado quanto a obra em si.
Ele normalmente supera as expectativas de como as imagens funcionam, muitas vezes chamando a atenção aos mínimos detalhes, falhas e espaços entre as coisas. Ao colocar pontos coloridos sobre os rostos, obscurecer parte das cenas ou sobrepor fotografias com frases, ele injeta humor e dissonância em um imaginário próprio.
Nos últimos anos, Baldessari se interessou pela dimensionalidade, como nas séries "Person with Guitar" (2005) e "Noses & Ears" (2006-2007). Seu modus operandi é o uso de foto-serigrafia: sobre uma superfície de plástico colorido, recorta a forma que o interessa e deixa a silhueta da mesma colorida ao fundo; pinta sem pintar, recortando e interrompendo as informações da imagem.
Baldessari tem hoje o status de um dos mais célebres artistas ainda vivos. Em 2009 ele foi agraciado com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza, uma das maiores honras do mundo da arte, e em 2015 receberá a National Medal of Arts, nos Estados Unidos. Seu trabalho foi destaque nas edições de 1972 e 1982 da Documenta e também na Whitney Bienal (1983) e na Bienal de Veneza de 1997.  Suas obras são representadas pelas galerias Marian Goodman (Nova York), Margo Leavin (Los Angeles) e Sprüth Magers (Berlim e Londres). 


Fonte: Portal Touch of Class
link:http://www.touchofclass.com.br/artistas.html